Guerras e petróleo <br>em terras do Sudão

Carlos Lopes Pereira

Está a avançar o pro­cesso vi­sando pôr termo à guerra civil que de­vasta o Sudão do Sul há quase dois anos e meio.
O líder dos re­beldes, Riek Ma­char, anun­ciou que vol­tará no pró­ximo dia 18 a Juba, a ca­pital, para formar um go­verno de união na­ci­onal com o pre­si­dente Salva Kiir.

O re­gresso do chefe da re­be­lião, que tem vi­vido no exílio entre Nai­robi e Adis Abeba, ins­creve-se no acordo de paz as­si­nado em Agosto de 2015, ao abrigo do qual Ma­char foi (re)no­meado, em Fe­ve­reiro deste ano, vice-pre­si­dente do Sudão do Sul, cargo que ocu­pava já, ao lado de Kiir, antes do co­meço da guerra.

O pro­cesso prevê a apli­cação de um cessar-fogo e a par­tilha do poder, entre Kiir e Ma­char, por um pe­ríodo tran­si­tório de 30 meses, findo o qual se re­a­li­zarão elei­ções. Na se­mana pas­sada, a missão da ONU no Sudão do Sul (Un­miss) anun­ciou que ti­nham já che­gado a Juba mais de 800 sol­dados e po­lí­cias da facção re­belde, de um total de 1370 pre­vistos.
A Un­miss, essa, com um or­ça­mento anual de mais de mil mi­lhões de dó­lares, dispõe de um dis­po­si­tivo mi­litar e po­li­cial de 12 mil e 500 efec­tivos, além de dois mil e 500 fun­ci­o­ná­rios civis. No país, vivem em campos da ONU cerca de 100 mil re­fu­gi­ados.   

A im­ple­men­tação do acordo de paz, al­can­çado sob pressão dos Es­tados Unidos e seus ali­ados Leste-afri­canos – Etiópia, Quénia, Uganda –, está a ser acom­pa­nhada por uma co­missão en­ca­be­çada por Festus Mogae, an­tigo pre­si­dente do Botswana.

A guerra, ini­ciada em De­zembro de 2013, causou pelo menos 50 mil mortos e quase dois mi­lhões e meio de des­lo­cados e re­fu­gi­ados, meio mi­lhão dos quais em países vi­zi­nhos. As duas partes foram acu­sadas por or­ga­ni­za­ções in­ter­na­ci­o­nais de terem co­me­tido ao longo do con­flito ar­mado as mai­ores atro­ci­dades, in­cluindo crimes de guerra e crimes contra a Hu­ma­ni­dade.

Um re­la­tório do Alto Co­mis­sa­riado das Na­ções Unidas para os Di­reitos do Homem, di­vul­gado em Março, re­fere-se a cri­anças uti­li­zadas como sol­dados pelos be­li­ge­rantes dos dois lados e fala de mas­sa­cres, de civis quei­mados vivos, de vi­o­lên­cias se­xuais em larga es­cala. «Trata-se de uma das mais hor­rí­veis si­tu­a­ções deste gé­nero em todo o mundo, com a uti­li­zação ma­ciça da vi­o­lação como ins­tru­mento de terror e como arma de guerra», re­sumiu o alto-co­mis­sário, o jor­dano Zeid Ra’ad Al Hus­sein.

O mais jovem Es­tado afri­cano, o Sudão do Sul pro­clamou a in­de­pen­dência em 2011, de­pois de dé­cadas de con­flito com o Sudão, do qual acabou por se­parar-se. Dois anos e meio de­pois, mer­gu­lhou numa san­grenta guerra civil, mo­ti­vada por di­ver­gên­cias po­lí­ticas entre os seus prin­ci­pais di­ri­gentes, que aca­baram por in­cre­mentar ri­va­li­dades ét­nicas entre os mai­o­ri­tá­rios dinkas de Salva Kiir e os nuers do seu vice-pre­si­dente.

En­cra­vado entre Sudão, Etiópia, Quénia, Uganda, Re­pú­blica De­mo­crá­tica do Congo e Re­pú­blica Centro-Afri­cana, o Sudão do Sul, com uma po­pu­lação de 12 mi­lhões de ha­bi­tantes, de mai­oria cristã, é um país com enormes po­ten­ci­a­li­dades eco­nó­micas. Atra­ves­sado pelo Nilo, possui, além de po­ten­cial agrí­cola, pe­tróleo e re­cursos mi­ne­rais (urânio, bau­xite, cobre, di­a­mantes, ouro).

O pe­tróleo, ex­plo­rado por com­pa­nhias es­tran­geiras, in­cluindo norte-ame­ri­canas e chi­nesas, é a maior fonte de ri­queza não só do go­verno de Djuba, apa­dri­nhado pelos Es­tados Unidos, mas também do re­gime de Cartum, cujo prin­cipal par­ceiro eco­nó­mico é a China. O pe­tróleo ex­plo­rado no Sudão do Sul é trans­por­tado por ole­o­dutos que atra­vessam o ter­ri­tório do Sudão até Mar Ver­melho, por cujos portos é ex­por­tado, sendo as re­ceitas co­bradas por essa pas­sagem es­sen­ciais à eco­nomia su­da­nesa. Ava­liada em 350 mil barris por dia antes do início da guerra civil, a pro­dução pe­tro­lí­fera no Sudão do Sul caiu quase 40 por cento com o con­flito.   

Re­fe­rendo no Darfur

No vi­zinho Darfur, no Oeste do Sudão, de­correu esta se­mana um re­fe­rendo sobre o seu es­ta­tuto ad­mi­nis­tra­tivo, não se co­nhe­cendo ainda os re­sul­tados. Os elei­tores de­viam de­cidir se pre­tendem manter a es­tru­tura ac­tual do Darfur, di­vi­dido em cinco es­tados, ou se pre­ferem a cri­ação de uma só re­gião.

A pri­meira opção é apoiada pelo re­gime de Cartum, do pre­si­dente Omar el-Bé­chir, com quem as po­tên­cias oci­den­tais não sim­pa­tizam. Desde 2009 o Tri­bunal Penal In­ter­na­ci­onal, com sede em Haia, tenta cap­turar e julgar o di­ri­gente su­danês, que en­frenta acu­sa­ções de crimes de guerra, crimes contra a Hu­ma­ni­dade e ge­no­cídio – ale­ga­da­mente co­me­tidos pelas tropas go­ver­na­men­tais no Darfur.

Se­gundo es­ti­ma­tivas das Na­ções Unidas, na re­gião, rica em pe­tróleo, urânio e cobre, o con­flito que opõe desde 2003 grupos ar­mados ao poder cen­tral terá pro­vo­cado um total de 300 mil mortos e dois mi­lhões e meio de des­lo­cados.

 



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